Façamos da interrupção um caminho novo.
Da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sonho uma ponte, da procura um encontro!
domingo, 12 de dezembro de 2010
sábado, 11 de dezembro de 2010
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
"A atualidade de Paulo Freire".Tirado do:(Blog do espaço educar)
PAULO FREIRE E O MÉTODO DE ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS
Professor Elias Celso Galvêas
Introdução
O analfabetismo no Brasil é uma mancha que envergonha a Nação. Embora não existam estatísticas atualizadas, acredita-se que, hoje, numa população de mais de 160 milhões de habitantes, cerca de 20% ou quase 30 milhões de brasileiros não saber ler e escrever. Isto explica, em grande parte, o atraso cultural e o subdesenvolvimento econômico e social do País, eis que o analfabeto é um deficiente mental, que não convive com a civilização e não progride no trabalho nem evolui socialmente. O analfabetismo é um fator de atraso político e altamente impeditivo do desenvolvimento econômico-social.
Dados Gerais sobre Paulo Freire
Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife, em 1921. Aos 15 anos era considerado um estudante atrasado, que escrevia mal e errado. É impressionante o sucesso que teve em sua carreira de educador, pois em 1970, vivendo em Genebra, dava aulas nas Universidades suíças.
Contra seu método de alfabetização de adultos surgiram muitas críticas. O ex-reitor da Universidade de Brasília, o físico José Carlos Azevedo, assegura que o método nem mesmo é dele, é de professores franceses, e não funciona, é inviável. A ex-deputada Sandra Cavalcanti considera a proposta de Paulo Freire demagógica e O Globo, em artigo de Carlos Swan, alertava a Nação para o fato de que seu método era um programa intensivo de comunização no Nordeste.
Paulo Freire é totalmente contra as idéias neo-liberais que advogam a preparação técnica e científica do aluno, para lhe dar uma profissão. “Isto é o esgotamento trágico da educação”, diz ele.
Paulo Freire, como Karl Marx, acredita que a sociedade só se transforma pela revolução, pela luta de classes. As classes dominantes impõem uma educação para o trabalho, com o objetivo de manter o homem dominado, sem escolha, sem liberdade. Daí que a educação liberadora é a“educação como prática da liberdade”, cujo objetivo é transformar o trabalhador em um agente político, que pensa, que vota, que elege seus pares, para que eles sejam a classe dominante. “A arma do homem é a palavra.” É através da palavra que o homem pode conquistar sua liberdade.
Paulo Freire, hoje, se dedica, exclusivamente, a participar de um curso de pós-graduação de pedagogos, na PUC de São Paulo.
Pelas suas idéias e pregação revolucionárias, Paulo Freire foi cassado pela Revolução de 1964 e passou 16 anos no exílio. Hoje, ele é cidadão honorário de 9 cidades brasileiras, além de Los Angeles, nos Estados Unidos, e doutor honoris causa por 28 universidades brasileiras e estrangeiras. Suas principais obras estão traduzidas em duas dezenas de línguas, inclusive grego e chinês.
Um pouco de História
A educação de adultos no Brasil ganhou maior importância a partir de 1932, com a Cruzada Nacional de Educação, seguido da Cruzada ABC, em 1952, de inspiração evangélica. Todavia, o programa mais importante foi o MOVIMENTO BRASILEIRO DE ALFABETIZAÇÃO – MOBRAL, criado em 1967. Em 1981, o MOBRAL foi substituído pela Fundação EDUCAR, que passou a dar prioridade ao ensino pré-escolar. Em 1990, o Governo lançou o PROGRAMA NACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO, praticamente sem resultados.
Educação e Educação de Adultos – conceituação e pressupostos
teórico-práticos
Conforme assinalamos na Introdução deste trabalho, o Brasil ainda é, entre os países em processo rápido de crescimento, um dos mais atrasados em matéria de educação, ostentando a cifra vergonhosa de cerca de 15% de analfabetos entre a população adulta acima de 20 anos.
Inúmeras tentativas foram realizadas visando a alfabetização de adultos, entre as quais se destaca o MOBRAL. Todas essas iniciativas fracassaram, inclusive a do MOBRAL, que conseguiu alfabetizar alguns milhões de brasileiros, mas não teve continuidade, de modo que o pouco que aprenderam foi rapidamente esquecido.
A população adulta é a que trabalha e que vota, elegendo seus representes políticos. Daí a sua importância sob dois aspectos:
1º) com o objetivo de preparar o trabalhador para melhor desempenhar o seu trabalho, podendo ler e interpretar os manuais de operação dos equipamentos. No mundo moderno, o conhecimento técnico é indispensável para adquirir alguma especialização, que aumenta a produtividade do trabalhador e lhe garante melhores salários.
2º) com o objetivo de preparar o trabalhador para o exercício da cidadania, conferindo-lhe status político e lhe permitindo que, através da politização, possa participar do poder diretamente ou através da eleição de seus representantes.
A ênfase que se dá à alfabetização de adultos, nas escolas socialistas, se deve ao fato de que só o adulto detém o poder do voto e pode influenciar politicamente.
O Pensamento pedagógico crítico de Paulo Freire - “A Pedagogia do Oprimido”, A Educação como Prática da Liberdade” e “A Pedagogia da Esperança”
Conforme vimos antes, Paulo Freire investe contra o discurso liberal em matéria de educação, condenando a educação puramente técnica e científica.
Para ele, o trabalhador precisa adquirir uma consciência política, para desempenhar com inteira liberdade sua cidadania. É significativo o trecho da “Apresentação” de seu livro “Pedagogia do Oprimido”:
“Aos que constróem juntos o mundo humano (trabalhadores), compete assumirem a responsabilidade de dar-lhe direção. Dizer a sua palavra equivale a assumir conscientemente, como trabalhador, a função de sujeito de sua história, em colaboração com os demais trabalhadores – o povo”.
Paulo Freire considera o conceito de “educação bancária”, dizendo que o educando funciona como um “fundo bancário”, onde o educador vai fazendo “depósitos” de informação (arquivo). O educando memoriza os dados mecanicamente e os repete. O educador é o sujeito do processo e os educandos são meros objetos. Citando Simone de Beauvoir, Paulo Freire continua sua crítica, afirmando que o que pretendem os opressores é transformar a mentalidade dos oprimidos e não a situação que os oprime, e, isto, para que, melhor adaptando-os a esta situação, melhor os domine.
Por isso, a educação libertadora do homem visa a construir o diálogo, através do qual os oprimidos possam confrontar os opressores.
A educação como ato político-sócio-cultural
Recentemente, afirmava Paulo Freire que “nos anos 60 a educação era tida como mágica, tudo podia; nos anos 70 e 80 era tida como negativa, nada podia. Agora, talvez estejamos chegando a uma condição de humildade, aceitando que a educação não é a chave de transformação da sociedade”.
De qualquer modo, apesar dessa nova visão sobre a educação no Brasil, Paulo Freire sustenta que seu método é, hoje, até mais atual que há três décadas atrás.
No fundo, os educadores socialistas brasileiros entendem que a estrutura econômica do País, comandada pelos grandes capitalistas, é que determina a estrutura do Poder político, dividindo a sociedade brasileira em dois grupos (classes), o da minoria que detém a riqueza e o poder e o da grande maioria que nada tem e vive à margem do progresso.
A influência marxista foi muito grande nos meios culturais brasileiros e, particularmente na área educacional. Conforme assinala Arnaldo Niskier, em Filosofia da Educação, “o praxis marxista assumiu várias tendências; ora é a pedagogia do conflito, ora é a educação transformadora (escola popular) ou ainda a educação contestatória (escola progressista).
Seus defensores atribuem à educação um caráter essencialmente político.
A maioria dos críticos de esquerda considera que o sistema de educação nacional foi organizado para servir ao capitalismo e aos empresários, contra os interesses do povo massa e, por isso, deve mudar. Mudar revolucionariamente. A crítica de fundo socialista vai contra não só a escola tradicional, conservadora, humanística, como a escola científica, tecnicista, cujo objetivo é preparar o homem para o trabalho. Contrariamente, a escola político-militante, também chamada de progressista, considera que o objetivo da educação é preparar o indivíduo para o exercício da cidadania, ou seja, para sua participação política.
A obra de Paulo Freire, tem, visivelmente, essa conexão marxista. Seus principais livros, “A Educação como Prática da Liberdade”, o “Papel da Educação na Humanidade” e a “Pedagogia do Oprimido” enfocam a luta de classes, entre oprimidos e dominantes.
O Método de Alfabetização proposto por Paulo Freire
As idéias de Paulo Freire em relação ao processo de alfabetização de adultos começa com a crítica do sistema tradicional que tinha a “Cartilha” como base. A velha “Cartilha” ensinava pela repetição de palavras aleatórias formadas pela junção de uma consoante e uma vogal.
Vejamos o caso da consoante “V”:
“Eva viu a uva
A ave é do Ivo
Ivo vai à roça”.
Era um método abstrato, pré-fabricado e imposto. A partir daí, Paulo Freire procurou os caminhos para encontrar um jeito mais humano de ensinar-aprender a ler e escrever.
Conforme assinala Carlos Rodrigues Brandão, em “O que é o método
Paulo Freire”,
“a educação deve ser um ato coletivo, solidário, um ato de amor”.
As “palavras geradoras”
A primeira etapa pedagógica de construção do método foi chamada por Paulo Freire de vários nomes: “levantamento do universos vocabular”, “descoberta do universo vocabular”, “pesquisa do universo vocabular” e “investigação do universo temático”.
Citada por Carlos Rodrigues Brandão, vejamos o que disse Arenice Cardoso:
“O contato inicial e direto que estabelecemos com a comunidade é durante do pesquisa do “universo vocabular – etapa realizada no campo e que é a primeira do Sistema Paulo Freire de Educação de Adultos... Não é uma pesquisa de alto rigor científico, não vamos testar nenhuma hipótese. Trata-se de uma pesquisa simples que tem como objetivo imediato a obtenção dos vocábulos mais usados pela população a se alfabetizar”.
Uma vez composto o universo das palavras geradoras, trata-se de exercitá-las com a participação ou co-participação dos elementos da comunidade.
Na verdade, esse exercício é muito semelhante ao método tradicional de formação e aprendizagem das palavras através da formação de sílabas básicas.
O método prático
As palavras geradoras, como dissemos, são escolhidas após pesquisa no meio ambiente. Assim, por exemplo, numa comunidade que vive em favela, a palavra FAVELA é geradora porque, evidentemente, está associada às necessidades fundamentais do grupo, tais como: habitação, alimentação, vestuário, transporte, saúde e educação.
Se houver possibilidade de utilizar um “slide”, projeta-se a palavra FAVELA e, logo em seguida a sua separação em sílabas: FA-VE-LA. O educador passa, então, a pronunciar as sílabas em voz alta, o que é repetido, várias vezes, pelos educandos.
Em seguida, projeta-se a palavra dividida em sílabas, na posição vertical:
FA
VE
LA
completando o quadro com os respectivos fonemas:
FA FE FI FO FU
VA VE VI VO VU
LA LE LI LO LU
A partir daí, o grupo passa a criar outras palavras, como FALA, VALA, VELA, VOVO, VIVO, LUVA, LEVE, FILA, VILA.
Outro exemplo, adaptável ao meio ambiente, é a palavra TRABALHO OU SALÁRIO.
TRA TRE TRI TRO TRU
BA BE BI BO BU
LHA LHE LHI LHO LHU
E assim por diante, vai-se fazendo, também a formação de palavras com fonemas já usados em palavras apresentadas anteriormente. Essas palavras constituem o que se chama FICHAS DE CULTURA, que podem ser acompanhadas de desenhos respectivos. P
or exemplo: CA-SA
As palavras geradoras não precisam ser muitas: de 16 a 23 é o bastante. No conjunto, elas devem atender a três critérios básicos de escolha:
- a riqueza fonêmica da palavra geradora;
- as dificuldades fonéticas da língua; e
- o sentido pragmático dos exercícios.
Na medida em que o aprendizado vai se desenvolvendo, forma-se um “circuito de cultura entre educadores e educandos, possibilitando a colocação de temas geradores para discussão através do diálogo.
Dessa forma, o objetivo da alfabetização de adultos vai levando a educando à conscientização dos problemas que o cercam, à compreensão do mundo e ao conhecimento da realidade social. Fica claro, então, que a alfabetização é o início do programa de educação.
Uma idéia desse contexto pode ser visualizada na discussão da palavra geradora SALÁRIO. Vejamos:
1) Idéias para discussão:
- valorização do trabalho e recompensa;
- finalidade do salário: manutenção do trabalhador e de sua família;
- horário de trabalho;
- o salário mínimo, o 13º salário;
- repouso semanal e férias.
2) Finalidade da conversa:
- discutir a situação do salário dos trabalhadores;
- despertar no grupo o conhecimento das leis trabalhistas;
- levar o grupo a exigir salários justos.
Evidentemente, o sentido pedagógico do método Paulo Freire é a politização do trabalhador, único meio de fortalecer a classe dos oprimidos e dar-lhe armas para lutar pela revolução social, contra as desigualdades e a favor da liberdade.
BIBLIOGRAFIA
Freire, Paulo
Pedagogia do Oprimido, Editora Paz e Terra, Rio, 1970
Educação como Prática da Liberdade – Editora Paz e Terra, Rio 1975
Brandão, Carlos Rodrigues
O Que É o Método Paulo Freire – Ed. Brasiliense – São Paulo, 1996
Niskier, Arnaldo
Filosofia da Educação – Ed. Traço + Linha – Rio, 1992
Confederação Nacional do Comércio
A Educação no Brasil – Coletânea de diversos autores, Rio 1995
Revista VEJA – nº de 29/06/96
Paiva, Vanilda Pereira
Paulo Freire e o Nacionalismo Desenvolvimentista - 1980
Professor Elias Celso Galvêas
Introdução
O analfabetismo no Brasil é uma mancha que envergonha a Nação. Embora não existam estatísticas atualizadas, acredita-se que, hoje, numa população de mais de 160 milhões de habitantes, cerca de 20% ou quase 30 milhões de brasileiros não saber ler e escrever. Isto explica, em grande parte, o atraso cultural e o subdesenvolvimento econômico e social do País, eis que o analfabeto é um deficiente mental, que não convive com a civilização e não progride no trabalho nem evolui socialmente. O analfabetismo é um fator de atraso político e altamente impeditivo do desenvolvimento econômico-social.
Dados Gerais sobre Paulo Freire
Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife, em 1921. Aos 15 anos era considerado um estudante atrasado, que escrevia mal e errado. É impressionante o sucesso que teve em sua carreira de educador, pois em 1970, vivendo em Genebra, dava aulas nas Universidades suíças.
Contra seu método de alfabetização de adultos surgiram muitas críticas. O ex-reitor da Universidade de Brasília, o físico José Carlos Azevedo, assegura que o método nem mesmo é dele, é de professores franceses, e não funciona, é inviável. A ex-deputada Sandra Cavalcanti considera a proposta de Paulo Freire demagógica e O Globo, em artigo de Carlos Swan, alertava a Nação para o fato de que seu método era um programa intensivo de comunização no Nordeste.
Paulo Freire é totalmente contra as idéias neo-liberais que advogam a preparação técnica e científica do aluno, para lhe dar uma profissão. “Isto é o esgotamento trágico da educação”, diz ele.
Paulo Freire, como Karl Marx, acredita que a sociedade só se transforma pela revolução, pela luta de classes. As classes dominantes impõem uma educação para o trabalho, com o objetivo de manter o homem dominado, sem escolha, sem liberdade. Daí que a educação liberadora é a“educação como prática da liberdade”, cujo objetivo é transformar o trabalhador em um agente político, que pensa, que vota, que elege seus pares, para que eles sejam a classe dominante. “A arma do homem é a palavra.” É através da palavra que o homem pode conquistar sua liberdade.
Paulo Freire, hoje, se dedica, exclusivamente, a participar de um curso de pós-graduação de pedagogos, na PUC de São Paulo.
Pelas suas idéias e pregação revolucionárias, Paulo Freire foi cassado pela Revolução de 1964 e passou 16 anos no exílio. Hoje, ele é cidadão honorário de 9 cidades brasileiras, além de Los Angeles, nos Estados Unidos, e doutor honoris causa por 28 universidades brasileiras e estrangeiras. Suas principais obras estão traduzidas em duas dezenas de línguas, inclusive grego e chinês.
Um pouco de História
A educação de adultos no Brasil ganhou maior importância a partir de 1932, com a Cruzada Nacional de Educação, seguido da Cruzada ABC, em 1952, de inspiração evangélica. Todavia, o programa mais importante foi o MOVIMENTO BRASILEIRO DE ALFABETIZAÇÃO – MOBRAL, criado em 1967. Em 1981, o MOBRAL foi substituído pela Fundação EDUCAR, que passou a dar prioridade ao ensino pré-escolar. Em 1990, o Governo lançou o PROGRAMA NACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO, praticamente sem resultados.
Educação e Educação de Adultos – conceituação e pressupostos
teórico-práticos
Conforme assinalamos na Introdução deste trabalho, o Brasil ainda é, entre os países em processo rápido de crescimento, um dos mais atrasados em matéria de educação, ostentando a cifra vergonhosa de cerca de 15% de analfabetos entre a população adulta acima de 20 anos.
Inúmeras tentativas foram realizadas visando a alfabetização de adultos, entre as quais se destaca o MOBRAL. Todas essas iniciativas fracassaram, inclusive a do MOBRAL, que conseguiu alfabetizar alguns milhões de brasileiros, mas não teve continuidade, de modo que o pouco que aprenderam foi rapidamente esquecido.
A população adulta é a que trabalha e que vota, elegendo seus representes políticos. Daí a sua importância sob dois aspectos:
1º) com o objetivo de preparar o trabalhador para melhor desempenhar o seu trabalho, podendo ler e interpretar os manuais de operação dos equipamentos. No mundo moderno, o conhecimento técnico é indispensável para adquirir alguma especialização, que aumenta a produtividade do trabalhador e lhe garante melhores salários.
2º) com o objetivo de preparar o trabalhador para o exercício da cidadania, conferindo-lhe status político e lhe permitindo que, através da politização, possa participar do poder diretamente ou através da eleição de seus representantes.
A ênfase que se dá à alfabetização de adultos, nas escolas socialistas, se deve ao fato de que só o adulto detém o poder do voto e pode influenciar politicamente.
O Pensamento pedagógico crítico de Paulo Freire - “A Pedagogia do Oprimido”, A Educação como Prática da Liberdade” e “A Pedagogia da Esperança”
Conforme vimos antes, Paulo Freire investe contra o discurso liberal em matéria de educação, condenando a educação puramente técnica e científica.
Para ele, o trabalhador precisa adquirir uma consciência política, para desempenhar com inteira liberdade sua cidadania. É significativo o trecho da “Apresentação” de seu livro “Pedagogia do Oprimido”:
“Aos que constróem juntos o mundo humano (trabalhadores), compete assumirem a responsabilidade de dar-lhe direção. Dizer a sua palavra equivale a assumir conscientemente, como trabalhador, a função de sujeito de sua história, em colaboração com os demais trabalhadores – o povo”.
Paulo Freire considera o conceito de “educação bancária”, dizendo que o educando funciona como um “fundo bancário”, onde o educador vai fazendo “depósitos” de informação (arquivo). O educando memoriza os dados mecanicamente e os repete. O educador é o sujeito do processo e os educandos são meros objetos. Citando Simone de Beauvoir, Paulo Freire continua sua crítica, afirmando que o que pretendem os opressores é transformar a mentalidade dos oprimidos e não a situação que os oprime, e, isto, para que, melhor adaptando-os a esta situação, melhor os domine.
Por isso, a educação libertadora do homem visa a construir o diálogo, através do qual os oprimidos possam confrontar os opressores.
A educação como ato político-sócio-cultural
Recentemente, afirmava Paulo Freire que “nos anos 60 a educação era tida como mágica, tudo podia; nos anos 70 e 80 era tida como negativa, nada podia. Agora, talvez estejamos chegando a uma condição de humildade, aceitando que a educação não é a chave de transformação da sociedade”.
De qualquer modo, apesar dessa nova visão sobre a educação no Brasil, Paulo Freire sustenta que seu método é, hoje, até mais atual que há três décadas atrás.
No fundo, os educadores socialistas brasileiros entendem que a estrutura econômica do País, comandada pelos grandes capitalistas, é que determina a estrutura do Poder político, dividindo a sociedade brasileira em dois grupos (classes), o da minoria que detém a riqueza e o poder e o da grande maioria que nada tem e vive à margem do progresso.
A influência marxista foi muito grande nos meios culturais brasileiros e, particularmente na área educacional. Conforme assinala Arnaldo Niskier, em Filosofia da Educação, “o praxis marxista assumiu várias tendências; ora é a pedagogia do conflito, ora é a educação transformadora (escola popular) ou ainda a educação contestatória (escola progressista).
Seus defensores atribuem à educação um caráter essencialmente político.
A maioria dos críticos de esquerda considera que o sistema de educação nacional foi organizado para servir ao capitalismo e aos empresários, contra os interesses do povo massa e, por isso, deve mudar. Mudar revolucionariamente. A crítica de fundo socialista vai contra não só a escola tradicional, conservadora, humanística, como a escola científica, tecnicista, cujo objetivo é preparar o homem para o trabalho. Contrariamente, a escola político-militante, também chamada de progressista, considera que o objetivo da educação é preparar o indivíduo para o exercício da cidadania, ou seja, para sua participação política.
A obra de Paulo Freire, tem, visivelmente, essa conexão marxista. Seus principais livros, “A Educação como Prática da Liberdade”, o “Papel da Educação na Humanidade” e a “Pedagogia do Oprimido” enfocam a luta de classes, entre oprimidos e dominantes.
O Método de Alfabetização proposto por Paulo Freire
As idéias de Paulo Freire em relação ao processo de alfabetização de adultos começa com a crítica do sistema tradicional que tinha a “Cartilha” como base. A velha “Cartilha” ensinava pela repetição de palavras aleatórias formadas pela junção de uma consoante e uma vogal.
Vejamos o caso da consoante “V”:
“Eva viu a uva
A ave é do Ivo
Ivo vai à roça”.
Era um método abstrato, pré-fabricado e imposto. A partir daí, Paulo Freire procurou os caminhos para encontrar um jeito mais humano de ensinar-aprender a ler e escrever.
Conforme assinala Carlos Rodrigues Brandão, em “O que é o método
Paulo Freire”,
“a educação deve ser um ato coletivo, solidário, um ato de amor”.
As “palavras geradoras”
A primeira etapa pedagógica de construção do método foi chamada por Paulo Freire de vários nomes: “levantamento do universos vocabular”, “descoberta do universo vocabular”, “pesquisa do universo vocabular” e “investigação do universo temático”.
Citada por Carlos Rodrigues Brandão, vejamos o que disse Arenice Cardoso:
“O contato inicial e direto que estabelecemos com a comunidade é durante do pesquisa do “universo vocabular – etapa realizada no campo e que é a primeira do Sistema Paulo Freire de Educação de Adultos... Não é uma pesquisa de alto rigor científico, não vamos testar nenhuma hipótese. Trata-se de uma pesquisa simples que tem como objetivo imediato a obtenção dos vocábulos mais usados pela população a se alfabetizar”.
Uma vez composto o universo das palavras geradoras, trata-se de exercitá-las com a participação ou co-participação dos elementos da comunidade.
Na verdade, esse exercício é muito semelhante ao método tradicional de formação e aprendizagem das palavras através da formação de sílabas básicas.
O método prático
As palavras geradoras, como dissemos, são escolhidas após pesquisa no meio ambiente. Assim, por exemplo, numa comunidade que vive em favela, a palavra FAVELA é geradora porque, evidentemente, está associada às necessidades fundamentais do grupo, tais como: habitação, alimentação, vestuário, transporte, saúde e educação.
Se houver possibilidade de utilizar um “slide”, projeta-se a palavra FAVELA e, logo em seguida a sua separação em sílabas: FA-VE-LA. O educador passa, então, a pronunciar as sílabas em voz alta, o que é repetido, várias vezes, pelos educandos.
Em seguida, projeta-se a palavra dividida em sílabas, na posição vertical:
FA
VE
LA
completando o quadro com os respectivos fonemas:
FA FE FI FO FU
VA VE VI VO VU
LA LE LI LO LU
A partir daí, o grupo passa a criar outras palavras, como FALA, VALA, VELA, VOVO, VIVO, LUVA, LEVE, FILA, VILA.
Outro exemplo, adaptável ao meio ambiente, é a palavra TRABALHO OU SALÁRIO.
TRA TRE TRI TRO TRU
BA BE BI BO BU
LHA LHE LHI LHO LHU
E assim por diante, vai-se fazendo, também a formação de palavras com fonemas já usados em palavras apresentadas anteriormente. Essas palavras constituem o que se chama FICHAS DE CULTURA, que podem ser acompanhadas de desenhos respectivos. P
or exemplo: CA-SA
As palavras geradoras não precisam ser muitas: de 16 a 23 é o bastante. No conjunto, elas devem atender a três critérios básicos de escolha:
- a riqueza fonêmica da palavra geradora;
- as dificuldades fonéticas da língua; e
- o sentido pragmático dos exercícios.
Na medida em que o aprendizado vai se desenvolvendo, forma-se um “circuito de cultura entre educadores e educandos, possibilitando a colocação de temas geradores para discussão através do diálogo.
Dessa forma, o objetivo da alfabetização de adultos vai levando a educando à conscientização dos problemas que o cercam, à compreensão do mundo e ao conhecimento da realidade social. Fica claro, então, que a alfabetização é o início do programa de educação.
Uma idéia desse contexto pode ser visualizada na discussão da palavra geradora SALÁRIO. Vejamos:
1) Idéias para discussão:
- valorização do trabalho e recompensa;
- finalidade do salário: manutenção do trabalhador e de sua família;
- horário de trabalho;
- o salário mínimo, o 13º salário;
- repouso semanal e férias.
2) Finalidade da conversa:
- discutir a situação do salário dos trabalhadores;
- despertar no grupo o conhecimento das leis trabalhistas;
- levar o grupo a exigir salários justos.
Evidentemente, o sentido pedagógico do método Paulo Freire é a politização do trabalhador, único meio de fortalecer a classe dos oprimidos e dar-lhe armas para lutar pela revolução social, contra as desigualdades e a favor da liberdade.
BIBLIOGRAFIA
Freire, Paulo
Pedagogia do Oprimido, Editora Paz e Terra, Rio, 1970
Educação como Prática da Liberdade – Editora Paz e Terra, Rio 1975
Brandão, Carlos Rodrigues
O Que É o Método Paulo Freire – Ed. Brasiliense – São Paulo, 1996
Niskier, Arnaldo
Filosofia da Educação – Ed. Traço + Linha – Rio, 1992
Confederação Nacional do Comércio
A Educação no Brasil – Coletânea de diversos autores, Rio 1995
Revista VEJA – nº de 29/06/96
Paiva, Vanilda Pereira
Paulo Freire e o Nacionalismo Desenvolvimentista - 1980
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